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O amor deixa-nos mesmo sem a noção exacta das coisas. Deixamo-nos levar por caminhos que, quando sóbrios, nos pareciam completamente impossíveis de os atravessarmos. E mesmo quando começamos a perceber isso, parece que não temos forças para fazer o caminho de volta e voltarmos a ser nós, sem que nos rebaixem, sem que nos humilhem, sem que nos magoem e nos pisem.
Aqueles que mais amamos são aqueles que mais nos magoam. Ainda por cima quando nem eles sabem ao certo se nos amam ou a quem amam de verdade. Assim magoam-nos e iludem-se, acabando por nos iludirem também, e vamos vivendo assim numa ilusão que se pode arrastar por semanas, longos meses ou até mesmo anos.
Inevitavelmente o fumo ilusório que embrulha a natureza do amor começa a dissipar-se e em algum momento começamos a ver e a ter a noção exacta das coisas. Aí por vezes é tarde. Já perdemos muito, até a dignidade, e então não estamos dispostos a perder muito mais. Lutamos mais um pouco, sem nada a perder.
Um dia acordamos e sabemos, mesmo sem saber porquê, que chegou o fim. Que não dá mais! Damos as mãos à saturação e mesmo para quem não acredita nele gritamos revoltados um Seja o que Deus quiser e aguardamos para que ele queira algo para nós.
Um seja o que Deus quiser para todos.
Por vezes sinto-me transparente,
diria mesmo invisivel,
aos olhos de tanta gente.
Sinto que a minha voz não sai
e se sai ninguém a ouve,
nem sequer alguém faz um esforço por me ouvir.
Então atravessam-me todos.
Atravessa-me o mundo
e gira dentro de mim,
confundindo-me com todas as suas voltas tortas,
fazendo-me vomitar palavras mortas.
E a verdade é simples.
Por vezes sinto-me transparente,
diria mesmo ausente, aos teus olhos.
Sinto que a minha voz sai da maneira que não devia sair
e que tu não me queres ouvir.
Afinal a verdade doi.
Não mata...
Mas mói...
Não sei tocar nenhum instrumento,
mas é nos acordes das palavras
que te invento
e onde tento
fazer-te feliz!
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