O rapaz que pensava que o mundo era redondo

Não seriam as pedras a ser
calcadas se tu me deixasses,
mas antes o meu coração.
As pedras, habituadas a ser calcadas,
certamente não se importariam,
quando muito nem notariam,
o peso do teu desprezo,
mas o meu coração sim.
As pedras não verteriam líquido,
fosse ele sangue ou lágrimas,
pois elas são desprovidas de veias
e de fontes de onde brotam
as gotas salgadas. Mas o meu
coração, para além da sua dor,
seria bem capaz de reclamar como sua
também a dor que as pedras não sentem
ao ser pisadas mas que ele sentiria
aquando a tua partida, caso algum
dia tu me deixasses e as pisasses.

As histórias de amor deviam ter sempre um final feliz.
Melhor, o amor nunca deveria ter fim.
Talvez ainda melhor, quem se ama não devia estar separado.
Melhor melhor, era não haver amores não correspondidos.
E ainda melhor que melhor, era eu estar perto de ti.
De mãos coladas a ti. De lábios selados nos teus.
De olhos perdidos nos teus. De corpo enrolado no teu.
De alma presa na tua. De pensamento cruzado no teu.
De respiração dependente da tua.
Melhor era eu ter-te ao meu lado.
Era eu amar-te e ser amado. Desejar e ser desejado.
Olhar e ser olhado. Tocar e ser tocado. Beijar e ser beijado.
Melhor, melhor era eu acreditar em finais felizes.
Em amores correspondidos.
Em amor sem distãncias.
Em mãos coladas.
Em almas presas.
Em corpos enrolados.
Em mim.
Em ti.
Em nós.