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São altas horas da noite,
todos dormem excepto eu
que penso em ti.
O dia nasce, tudo acorda,
menos eu que não dormi.
As pessoas correm atarefadas
e tropeçam nas suas vidas,
choram, sofrem e gritam...
também eu que penso em ti.
Se me queres comer come-me de uma vez. Não te fiques pela metade. Sem metade eu não sou nem tão pouco me dou. Não me transformes em restos. Come-me com vontade, assim a frio, mesmo que eu não saiba se choro ou se rio. Espeta-me as tuas garras e devora-me sem piedade, não temas pela saudade, estarei dentro de ti. Roi o mais duro de mim e saboreia as minhas fraquezas, engole alegrias fracassos e tristezas. Bebe-me o sangue, o olhar, o pensamento, o riso, o juízo, o ser, o estar, o querer amar. Rasga a minha pele com os teus dentes, mesmo que o sal não esteja a gosto. Come-me o desgosto que é querer e não ter a quem me dar, agora que me tens e me dou ao teu paladar. Trinca-me as mãos que escrevem coisas que eu não percebo e que recebo do além vindas de não sei quem. Se me queres comer, come-me depressa, antes que o arrependimento chegue, fale e aconteça. Come-me.
Vou-me transformar em odor e esconder-me em casa dele, talvez no quarto! Melhor! Vou-me esconder na cama, no meio dos lençois! Vou ficar lá perdida ate ele me encontrar. Ele vai abrir a porta. Vai tirar o casaco e atirá-lo para cima do sofá preto. Põe Both sides now da Joni Mitchell a tocar, enquanto bebe a àgua gelada que tinha ido buscar ao frigorífico. Lembra-se de mim enquanto canta e é então que vem à minha procura. Deambula pela casa à procura de uma recordação minha que sabe que não vai encontrar nas muitas fotografias espalhadas pela casa. Pára na sala e suspira. O suspiro tranforma-se em grito O grito chama pelo meu nome. Ele sabe que eu não vou ouvir e atira o copo contra a parede. O copo parte-se em pedaços mudos, abafados pela música que se repete pela 3ª vez. Caminha de olhos humidos até ao quarto e deixa-se cair na cama, onde me encontra perdida no cheiro dos lençois.
Aliado a um tempo pausado no nunca, dou as mãos à força e destruo os pequenos cacos de vidro que cravaste no meu peito enquanto eu fingia que nada me doía.
Afogo os quadros pintados de tardes tristes, em àguas de sal chorado e acabo para sempre com a vontade de chorar que me ataca os olhos cegos de ti.
Tapo marcas de pele comida pelo teu desejo, com fogo ateado no Verão que nos tocou e destruo com ele o prazer de te ter.
Rasgo palavras escritas ao vento, com tesouras de um tempo que não perdoa e deixo que com ele voe também o pensamento que me prende a ti.
Limpo o caminho sujo de noites de prazer carnal, com as mãos que te guiavam a vida e limpo com elas a vida que em tempos nos pertenceu.
Afasto suspiros que guardaste no meu ouvido, com músicas que não te pintam no som e esqueço de vez o sabor da tua voz.
Arranco as costuras ao coração, com as unhas que te arranharam a carne e perco pelo chão os sentimentos que nele guardei.
Piso tudo sem olhar para trás e atiro a minha vida às esperanças vivas do caminho que hoje construo sozinho.
É complicado não saber o que se escrever e sentir que as palavras querem, mesmo assim, sair cá para fora.
Parecem loucas!
Atrapalham-me o pensamento e pensam por si só. Comem-me as ideias e passam a ter vontade própria, obrigando-me assim a ser mero intermediário entre elas e o papel.
Recorro a várias tentativas para impor respeito e ordem na minha cabeça, mas é inútil, as palavras não me obedecem e correm apenas num só sentido, em direcção a ti!
Parecem loucas!
Imploro para comer as sobras da tua atenção e acabo sempre por morrer à fome.
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