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Apetece-me escrever frases soltas,
tão soltas que se perdem pelo ar.
Não quero fazer das frases minhas prisioneiras
e amarrá-las a uma folha branca,
de onde so saem através dos teus lábios.
E se tu não as leres?
Não, não as quero mortas.
Não quero fazer da folha branca
um túmulo de frases que esperam
rolar na tua língua.
Apetece-me soltar frases presas,
tão presas que custam a escrever.
Não quero ser prisioneiro das minhas frases,
e viver coberto de folhas brancas,
de onde só saio quando tu vens.
E se tu não vieres?
Não, não quero estar preso.
Não quero fazer das frases mortas
o meu túmulo de lembranças que esperam
que o esquecimento as solte.
De olhos postos no quadrante norte do teu
corpo - os teus olhos que me guiam - escalo a montanha
esquerda - um seio timidamente descoberto - com os dedos
e repouso os meus lábios na fonte potável
dos teus beijos - a boca que me cala.
Mata-me outra vez.
Com a mesma precisão da dureza de uma pedra,
ama-me outra vez.
Come-me outra vez.
Com a mesma força de um guerreiro,
destroi-me outra vez.
Cega-me outra vez.
Com o mesmo calor de uma chama,
consome-me outra vez.
Foge de mim outra vez.
Com a mesma coragem de um cobarde,
abandona-me de vez.
Arranco a minha voz, a esta
garganta seca, para te gritar
que o meu coração não aguenta
viver sem a metade que o alimenta
e que tu levaste contigo sem saberes.
Grito juntamente com o silêncio,
porque não gosto de gritar sozinho,
e chamo por ti bem baixinho
para que voltes e tragas contigo
o que roubaste do meu coração.
Agarro-me à solidão dos meus dias,
com a metade que ainda me resta,
e canto com o vento em notas trocadas.
Repito a cantiga de olhos fechados
e peço ao meu peito que se feche
e que aprenda a viver sem ti.
Não há luz, nem ar.
Foram-se os sorrisos e brilhos no olhar.
Raptaram o sol, prenderam a lua,
esconderam o mar e a minha mão da tua.
Não voam os pássaros, nem miam os gatos,
vivo sem vontade e choro de saudade.
Não há borboletas, nada se mexe.
Perderam o vento e a minha dor cresce.
Enterraram as àrvores e o meu coração,
coseram o céu em cima do chão.
Embrulharam as vidas em papel cinzento,
viver longe de ti não sei se aguento.
As casas caíram e nelas mora a desgraça...
Com o tempo tudo se resolve,
amanhã a chuva passa.
Vou pela rua, absorto, meio morto, perdido em mim e em passos difusos.
Vou de encontro a abismos esquecidos que me arrancam aos poucos gritos partidos.
Vou por labirintos confusos, escuros, obtusos. Recuso ajudas, quero estar sozinho.
Sigo um caminho que não escolhi, tenho a sensação de que me perdi...
Chuvas de Inverno
lavam tudo, só não lavam
almas sujas e o teu podre coração.
Podem até lavar o mundo,
mas a tua língua de cobra
e o teu corpo imundo
Não!
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