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São palavras abruptas, que me descem pela cabeça e que saem por esta boca cansada de te beijar, que te magoam neste capítulo morto do livro da tua madrasta vida. Espreitas pela esquina sombria onde te esperei em dias de chuva e em tardes de sol tórrido, e choras de saudade. Porque afinal eu já não lá estou para te estender a mão e atravessar a rua de mão dada contigo. Ou se calhar, se pensarmos bem, eu nunca lá estive e nunca quis atravessar a rua nem a vida de mão dada e de rosto colado no teu. E agora estas palavras que se escapam dos meus murmúrios, atingem-te ao mais elevado nível e encostam-te ao parapeito da dor que tu mereces sofrer.
Qualquer murmúrio que se escapa sem consentimento de qualquer parte minha, revela o quanto te desprezo, abomino e odeio. Sim odeio. Sim desprezo. Sim abomino. Porque tu és simplesmente desprezável e porque eu me acho, sim, acho-me no direito de te julgar e de te condenar sem qualquer defesa, a uma pena máxima de dor máxima.
É estranho como de repente o amor que sentia por ti desertou e no lugar dele instalou-se esta revolta e desilusão. Podes chorar, podes gritar, podes tudo… Eu não ouço, eu não vejo, eu nada vou fazer para te socorrer. Vou ficar indiferente e rir, rir, rir até não aguentar mais. Sim vou rir muito. Muito, porque tanto tu como eu merecemos todas as gargalhadas deste mundo. Porque ambos fomos ridículos ao máximo, palhaços ao máximo, tontos ao máximo, ingénuos ao máximo… Vá repete comigo “Eu fui tão patético”. Vá, repete! Afinal também o foste, não fui só eu. Não fui só eu que repeti exaustivamente, sem medo de gastar, a palavra “amo-te”. Não fui só que prometi amar-te para sempre. Vinhas e chegavas de mansinho, com aquele sorriso parvo cosido na tua cara de sonsa, e dizias que eu era a tua luz. Mentirosa! Espero então que fiques bem às escuras e que tropeces muito até esmurrares bem os cornos. Dizias que eu era a tua vida… Porque não morres então de uma vez e me poupas de pensar na tua existência?
Agora choras… Ridícula! Chora à vontade. Espero que morras de desidratação. Foste tu que escolheste assim. Tu é que premeditaste o nosso fim. Porque é que agora te importas tanto com o que eu digo? Porque é que o que digo te afecta tanto?
Só as palavras sabem que te odeio. Elas carregam na sua sonoridade este ódio e se pudessem, elas próprias, estrangulavam-te. Porque até para elas se torna pesado carregar este sentimento tão feio que tu injectaste para dentro das minhas veias já secas, porque o sangue fugiu com medo de ser contaminado. Odeio-te com a minha máxima potência.
São palavras que explicam tudo o que sinto por ti. Elas traduzem tudo, elas falam por mim, elas sentem por mim, elas odeiam-te por mim. Sofre! Sim sofre. Eu também sofri por ti.
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