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Esta mania de escrever

autoria de Bruno C. da Cruz, em 22.09.04

Um dia acordei e quis ser poeta.

Desejei falar a língua de quem sente
as palavras e escreve sentimentos.
Quis ser tão grande como os grandes
e traduzir a minha alma que grita
numa língua que me seca os pensamentos.
Quis ver nascer entre os meus dedos
o alicerce de um poema e ver crescer
a minha dependência com as palavras.
Esperei ser digno de ver aquilo que os olhos
renegam, desde que se abriram, com inocência
e ignoram, sempre que piscam, com ignorância.

Um dia acordei e desejei não ser mais poeta.
Desejei não viver desta forma tão sôfrega
que me isola o coração e me rasga o peito
em pedaços que cultivo no papel.
Quis deixar de sentir as palavras
comerem tudo o que sinto e não mais deixar
que elas bebam toda a sensibilidade
que me corre no sangue.
Quis deixar de saber a cor de cada sentimento
e o paladar de cada amargura
que fica marcada como cicatriz que nunca sara.

Um dia acordei e percebi que ninguém
é ou deixa de ser poeta somente porque deseja.
A poesia é como um vírus que já nasce com o poeta.
E quando menos se dá por isso o vírus desperta
e faz o poeta amar incondicionalmente tudo o que dói.
Faz o poeta viver intensamente tudo o que sente.
Faz o poeta dar voz à alma e ao coração
e condenar ao silêncio o sensor da razão.
Faz o poeta beber silêncio para não verter lágrimas
E faz o poeta chorar palavras.

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publicado às 00:01



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