autoria de Bruno C. da Cruz, em 21.01.10
Subiu as escadas a correr e enfiou-se na casa de banho para se lavar do sangue. Esteve lá fechado mais de uma hora, deitado na banheira de água tingida a vermelho, enquanto recordava o que acabara de fazer. Já está, pensou. Passou depois o corpo pela água que corria do chuveiro e, mesmo a pingar, deitou-se na cama, enrolou-se no lençol, e adormeceu.
Às 7:00 o despertador tocou, caindo de seguida no chão, vítima de uma tentativa frustrada para se calar. Levantou-se, apanhou e desligou o despertador. Caminhou até à janela, abriu as portadas e deixou que o sol entrasse e iluminasse o quarto. Tomou banho, barbeou-se, vestiu-se e penteou-se. Desceu as escadas, foi à cozinha preparar o café, que tomou de uma vez só, e saiu.
Estava muito calor já àquela hora. Ele detestava o calor. O calor tirava-lhe as forças, deixava-o fatigado. Estava também muito trânsito, o que não era normal. Destava, também, o trânsito. O trânsito tirava-o do sério, deixava-o irritado. O cheiro, pensou. Sentiu-se, então, mais calmo, enquanto fechava os olhos e tentava inalar o cheiro. Aquele cheiro, vindo da mala do carro, dava-lhe paz, fazia-o sentir-se melhor.
Embrenhou-se no meio do mato e só descansou quando atirou a última pá de terra. Acabou-se para sempre…