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Relógio, sempre o mesmo chato que nunca perdoa nenhum segundo. Faz-me acordar todos os dias de mau humor, a reclamar as minhas merecidas, mas nunca compensadas, horas do sono dos justos. A Beatriz ainda dorme. Dorme como uma criança. Perdida no tempo e nos sonhos, que se misturam às fábulas e aos contos de fadas, e a transportam daqui, para as cores do portal de uma vida afagada de alegrias e protegida de malícias e sofrimentos. A Beatriz é assim. Estagnou no tempo e vive a infância eterna. E não será por isso que eu gosto tanto dela? Resposta afirmativamente correcta e sem margem de erro e de cálculo possível.
Não a vou acordar. Nem pensar. Gosto de a ver assim, desprotegida e vulnerável aos raios do sol matinal, que se transformam em feixes de luz, que brotam da portada da janela, propositadamente mal fechada, e que lhe demarcam as curvas e lhe iluminam o rosto pálido de sono. Quem me dera ao menos ter o poder de fazer parar o tempo, apenas só por uns instantes, e ficar assim, por breves momentos, a alimentar a minha mente com esta agradável visão. Mas não posso. O tempo ruge e corre ao som de um tic-tac deveras irritante, e altamente demonstrativo, e ilustrativo, de que ele não pára. E que não pare então. Que corra muito. Corre sem parar, tempo irritante, e cumpre a tua maldição! Faz cumprir a razão da tua existência. Tic-tac… Que assim seja. E enquanto corres sem descansar eu acompanho-te nas voltas repetidas de todas as horas.
Tenho de ir, minha bela adormecida. Que inveja desses lençóis que te beijam continuamente a pele. Que inveja da almofada cúmplice de todos os teus sonhos e pensamentos. Que inveja deste grande espelho, que te vai ver a abrir os olhos para a realidade deste novo dia soalheiro.
Entrego aos teus lábios, ainda em descanso e indefesos, um beijo de bom dia e parto para longe da alma que alimenta o meu coração.
Até logo.
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